Programa REM Acre – Fase II

Secretaria de Agricultura capacita produtores da Reserva Extrativista Chico Mendes na criação de abelhas

Vitor Hugo Calixto – 07 de junho de 2024

Com o objetivo de incentivar a cadeia produtiva do mel e o desenvolvimento da agricultura sustentável, o governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Agricultura (Seagri), ofereceu, durante esta semana, na Reserva Extrativista Chico Mendes, um curso avançado de apicultura. Com apoio do Programa REM e da Prefeitura Municipal de Assis Brasil, uma equipe multidisciplinar da Seagri atendeu a solicitação que partiu dos próprios extrativistas e, ao longo de quatro dias, capacitou moradores do Seringal Guanabara.

Biólogos, veterinários, economistas, agrônomos e engenheiros florestais instruíram 16 produtores em boas práticas do mel, abordando o processo de captura, reprodução de enxames, higiene, utilização dos equipamentos de proteção individual e outros conhecimentos essenciais para que a criação seja bem-sucedida.

O objetivo do curso é capacitar produtores na criação de abelhas. Foto: Neto Lucena/Secom

As abelhas ajudam na polinização e a polinização aumenta a produção local, alavancando o lucro tanto dessa produção, no caso, o café, quanto do mel.

Jorge Pereira é produtor de café a partir da recuperação de áreas degradadas da resex e revelou que os produtores identificaram uma nova alternativa e fonte de renda na produção de mel.

Jorge produz café e explica que as abelhas são vitais não só para a sua produção, mas para a biodiversidade da reserva. Foto: Neto Lucena/Secom

“O governo do Estado proporcionou esse curso, e a criação de abelhas vai agregar valor ao nosso negócio. A gente captura as abelhas e delas tira o mel no processo de florada para, além de comercializar o café, poder comercializar o mel de café”, explicou.

Jorge relatou, ainda, que participou, com o seu café, do 1° Concurso de Qualidade do Café Robusta Amazônico do Acre, o Qualicafé, e considerou a iniciativa importante para impulsionar a produção do grão.

Edna da Costa é especialista em abelhas sem ferrão. Foto: Neto Lucena/Secom

Especialista em abelhas sem ferrão, a médica-veterinária da Seagri, Edna da Costa, trabalha desde 1990 com meliponicultura e informou que as Meliponas (abelhas sem ferrão ou com ferrão atrofiado) fortalecem a biodiversidade das espécies nativas da resex e ajudam a agricultura do local.

“A [abelha] com ferrão produz mais; já o mel da sem ferrão é considerado medicinal, que a maioria dos extrativistas e indígenas usam como remédio. A gente tem certeza que muitas espécies florestais dependem desses animais para a sua polinização, e a partir daí vem o mel, que milenarmente tem sido utilizado pelas pessoas como alimento e medicina”, contextualizou.

Edna já esteve no Seringal Guanabara anteriormente, ministrando o curso de abelhas sem ferrão, e nessa nova oportunidade, acompanhou a equipe da Seagri durante a capacitação.

Professor do curso, Bruno Flangini afirmou que, após a capacitação, os produtores saem totalmente aptos a criar abelhas e produzir mel. Foto: Neto Lucena/Secom

Bruno Flangini, professor do curso de abelha com ferrão e mestre em Mel de Abelhas pela Universidade Federal do Acre (Ufac), trabalha com apicultura há 12 anos e garantiu que os produtores saem da capacitação, que abordou aspectos teóricos e práticos, aptos a aumentar os enxames para posterior produção do mel.

“A Apis Mellifera [abelha com ferrão] tem preferência pela cultura do café, o que traz um benefício tanto para o apicultor quanto para o produtor de café”, disse.

Para Iranilce, a biodiversidade da reserva é essencial para garantir um futuro para as próximas gerações de extrativistas. Foto: Neto Lucena/Secom

Iranilce Lanes, que é presidente da Associação de Pequenos Agroextrativistas Nossa Senhora dos Seringueiros, vinculada à Associação de Produtores Extrativistas de Brasileia, contou que a produção dentro da Resex segue toda a legislação vigente, e que áreas degradadas e vegetações de capoeira são preferencialmente os locais de criação do plantio.

“Nós ganhamos um café [mudas] e capacitação do governo do Estado, com o objetivo de incentivar a produção feminina, e tivemos seis mulheres beneficiadas com a ação. Nossa intenção é fortalecer a cafeicultura na reserva de forma sustentável, reaproveitando áreas onde já era capim ou capoeira”, afirmou.

Processo de polinização de floradas como a do café garante melhoria na produção do grão no local. Foto: Neto Lucena/Secom

Iranilce esclarece que a descoberta e reprodução das abelhas é importante, pois vai melhorar o desenvolvimento da floresta e da produção local, que vinha diminuindo há algum tempo: “Nós observamos a redução da nossa produção por falta de polinização, e é onde a abelha entrou em cena na nossa comunidade, o que é maravilhoso para a gente”.

Equipe da Seagri. Foto: cedida

Diferença entre apicultura e meliponicultura

Tanto a apicultura quanto a meliponicultura trabalham com a criação de abelhas e, posteriormente, com a produção do mel e seus derivados, mas as duas práticas são distintas.

Enquanto a apicultura refere-se à criação de abelhas com ferrão, principalmente para a produção de mel, própolis, pólen, cera de abelha e geleia real, a meliponicultura se utiliza da abelha sem ferrão.

Processo de captura, na natureza, de abelhas sem ferrão. Foto: Neto Lucena/Secom

Programa REM

O programa Global REDD+ para Early Movers (REDD+, sigla em inglês para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal para Pioneiros) é fruto de cooperação financeira entre os governos do Acre, da Alemanha e Reino Unido, por meio do Ministério Federal de Cooperação e Desenvolvimento Econômico da Alemanha (BMZ) e do Departamento de Segurança Energética e Net Zero do Reino Unido (DESNZ), por meio do KfW, para implementação de projetos voltados à conservação das florestas que beneficiam milhares de produtores rurais, ribeirinhos, extrativistas e indígenas no Acre.

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